Música e fotografia. Duas formas de arte. Para mim, dois lados da mesma moeda.
Até os 46 anos de idade, eu nunca me considerei um fotógrafo, apesar que, quando olho para trás, eu vejo que sempre tive uma câmera fotográfica comigo. Tá certo que era uma câmera barata, sem nem mesmo recurso de foco (pode esquecer a existência de zoom), e que eu não tinha a mínima ideia de como tirar uma boa foto, mas a câmera estava comigo.
Quando eu comprei minha primeira câmera digital, eu me interessei mais pelo assunto. Comecei a aprender sobre composição, abertura, velocidade de disparo, ISO etc., e logo vi os resultados nas minhas fotos. Mais e mais eu queria fotografar e aprender sobre fotografia. Fotografia virou hobby.
Lembro de um período em que eu tirava 1000 fotos por semana, em média. Fotos de todos os tipos: pessoas, pássaros, flores, formas, paisagens, casas, janelas, folhas, nuvens, insetos… qualquer coisa que eu visualizasse uma possível boa composição eu estava fotografando.
Os anos se passaram e tudo mudou quando eu comprei minha primeira DSLR (Digital Single Lens Reflex). Não! Não estou dizendo que o equipamento melhor faz um fotógrafo melhor. Todos nós temos em nossos celulares câmeras inúmeras vezes melhores que a que Cartier-Bresson tinha na década de 1930 e basicamente ninguém consegue tirar fotos tão geniais quanto as que ele tirou. Eu falo de ter controle.
A câmera DSLR me deu maior controle sobre os resultados das fotos. Ferramentas para tanto contornar situações mais difĩceis, como luminosidade baixa ou excesso de luz, quanto para tomada de decisões artísticas, como obter a quantidade de desfoque que eu queria.
Entenda que tirar fotos é simples. Basta você se posicionar para ter a visão correta da cena, ajustar o zoom para definir o enquadramento que você quer, ajustar abertura, velocidade e ISO e pronto! Na teoria é simples assim… Já na prática…
À medida que me dedicava à fotografia, percebia que, como na música, preciso estudar muito para tirar boas fotos. Entendia que, como na música, onde preciso saber harmonia, ritmo, composição, gêneros musicais, na fotografia preciso saber sobre luz, forma, profundidade de campo, gêneros fotográficos. Entendia que, como acontece na música, onde só saber acordes, escalas e ter técnica não resulta numa bela composição, na fotografia, saber sobre ISO, ter um bom tripé e uma lente cara não resulta numa bela foto.
Eu vi que, para ser um fotógrafo de verdade, preciso me dedicar. Me dedicar tanto quanto já me dediquei para ser músico.
Continuo aprendendo. Fotografia e música.
Quanto mais aprendo sobre fotografia, mais percebo que a mesma paixão que tenho de estar num palco ou num estúdio com meu contrabaixo eu tenho quando estou com uma câmera na mão. Hoje entendo que me expressar com notas musicais é tão profundo quanto me expressar com luz e sombras. São lados diferentes da mesma moeda, a moeda da auto expressão.
Hoje eu digo que sou músico e sou fotógrafo.
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Hamilton Pinheiro é contrabaixista, compositor e arranjador de destaque na música instrumental brasileira. Nascido em Natal (RN) e radicado em Brasília (DF), possui mestrado em Jazz Performance pela University of Louisville (EUA), licenciatura em Música pela Universidade de Brasília e formação técnica em contrabaixo pela Escola de Música de Brasília. Pinheiro une a riqueza da música brasileira com o jazz moderno em seis álbuns autorais, com destaque para o mais recente, O Dia do Sol.