Na minha vida como aluno e como professor de baixo, sempre me deparei com a tríade básico-intermediário-avançado quando se falava em níveis de desenvolvimento do estudante, porém nunca entendi realmente os limites entre cada um. Da mesma forma, nunca encontrei textos que dissertassem sobre o assunto. Assim, coloco aqui como eu divido esses níveis.
No meu entendimento, os dois pilares que sustentam a divisão de níveis de desenvolvimento são a capacidade de compreender minimamente como a música tonal se organiza e a capacidade de aplicar os conhecimentos em linhas de baixo e improvisação. Saliento que a improvisação possui nível grande de importância na minha maneira de ensinar por sua capacidade de desenvolver a criatividade. O aluno que improvisa, cria melhor.
Sabendo que esses pilares são são direcionados especificamente ao contrabaixo, eu elegi os assuntos relacionados a campo harmônico como sendo o grande divisor de águas. A partir do momento que o aluno entende como a tonalidade funciona, como os acordes da tonalidade se organizam e se originam da escala da tonalidade e como pode usar os arpejos dos acordes e a própria escala da tonalidade para criação de linhas de baixo e frases, ele ou ela começam a entender mais profundamente como a música se organiza. É a transição do nível básico para o intermediário.
Quando ensino contrabaixo, todo o conteúdo do nível básico é direcionado para essa transição. O aluno aprende o conceito de escalas, acordes, linhas de baixo, frases, aplicações, desenvolvimento técnico, etc., mas nunca com uma compreensão completa de como esses conceitos funcionam. O entendimento da tonalidade, do campo harmônico e sua aplicação nas linhas de baixo meio que “juntam tudo em uma coisa só” chamada música.
A divisão entre nível intermediário e avançado é mais subjetiva. Ela se revela mais na autonomia em que o aluno consegue aplicar os conhecimentos que adquiriu. Em outras palavras, em quão natural um aluno consegue criar uma linha de baixo coerente e aplicar variações e frases em uma música que nunca havia tocado antes. Observo o quanto o aluno “anda sozinho”. Para chegar a essa conclusão, é importante observar o desenvolvimento técnico, principalmente no que se refere à habilidade de identificar e executar escalas e arpejos no braço do instrumento, e observar as conexões mentais que o aluno faz para a criação das linhas e frases.
Ainda explicando a transição entre intermediário e avançado, basicamente procuro verificar que o aluno se apropriou do que aprendeu. Se apropriar no sentido de entender e executar. A execução aqui é o mais importante porque o entendimento em si se adquire quando se alcança o nível intermediário. O aluno do nível intermediário “sabe” como funciona. Entende como se constrói e como deve fazer para executar. Porém, hora de tocar, não sai nada muito diferente do que já executava antes.
Chegado o nível avançado, o trabalho é mostrar todas as variantes que a música tem. No caso do contrabaixo, pela íntima relação que a criação de linhas tem com harmonia, meu foco é a harmonia e improvisação. Mostrar todas as “quebras de regras” que a música possui (pelo menos, todas as que eu conheço), enquanto solidifica todo o trabalho.
Compreendido como eu divido os níveis de desenvolvimento no contrabaixo, preciso colocar algumas coisas bem importantes aqui. Primeiro, não tenha pressa, tenha empolgação. O aprendizado da música é um game com infinitas fases. Algumas fáceis, outras difíceis, mas sempre emocionantes. Observe mais as fases que conquistou que as que ainda não conseguiu passar. Isso tornará seu aprendizado leve.
Segundo, não pule etapas. A sistematização que coloquei aqui é baseada em anos de experiência. Não adianta aprender campo harmônico apenas para se dizer de nível intermediário, pois você continuará sem base e essa “conta” será cobrada mais a frente. Não adianta saber campo harmônico e não saber porque tanto a escala da pentatônica da tonalidade quanto as escalas pentatônicas de cada acorde funcionam para improvisar.
Terceiro, não se preocupe com a classificação básico-intermediário-avançado. Não se preocupe tanto com diplomas, a não ser que você tenha vontade de entrar no mundo acadêmico. Ter diplomas no currículo é legal, mas tocar bem é mais importante. Nenhuma banda vai te chamar pelo diploma que está na parede de sua casa. Vai te chamar pelo som que você faz.
Abraço,
HP